sábado, 19 de março de 2011

Hoje, aos 52 anos de idade, me encontro aqui sentado, sozinho, bêbado, sem filhos, sem mulher, apenas com um carpete persa que não me serve nem para espantar o frio.

Toda a minha louca adolescência eu podia jurar que teria algo, mas não tenho nada, toda a minha luta de quando me tornei adulto, apenas me restou as bebedeiras solitárias, todas as minhas fugas, minhas teorias sobre a vida, a minha crença que vivi a risca... Nada foi real.

Me lembro perfeitamente dos meus 12 anos de idade, há 40 anos atrás, começando a descobrir o mundo, eu tinha um amor platônico como qualquer outra crinaça, lembro-me perfeitamente dos seus olhos cor-de-mel, seu cabelo enrolado e seu cheiro docê. Nós costumavamos brincar no quintal da minha casa, ela morava na rua atrás da minha, nos viamos todos os dias depois da aula, e como um belo bundão que era, e sempre fui, nunca falei do meu amor por ela. Um dia quando brincavamos ela encontrou algo e me chamou, saí correndo do lado oposto do quintal ao seu encontro, na metade do caminho eu tropecei e caí, cortei feio o joelho, mas como não queria mostrar minhas fraquezas para ela, segurei o choro e continuei deitado a me contorcer, ela viu o acidente de longe e veio ao meu encontro, quando percebi virei o rosto, então as lagrimas pareciam ganhar cada vez mais força, ela percebeu o sangue, ficou desesperada e correu, porém não disse nada, o que me ajudou a não chorar, ela chegou, soltou uma flor que trazia, nunca perguntei se era o que ela queria me mostrar, na verdade nunca toquei com ela nesse assunto, achava que me fazia parecer fraco, segurou minha mão e me ajudou a levantar, quando olhei seus olhos caridosos deixei uma lageima pequenininha escapar, ela percebeu, abriu um sorriso como que dizendo "Não se preocupe" e me beijou, foi meu primeiro beijo de verdade, e provavelmente o que mais significou algo. Parecia que a vida seria qualquer coisa de extraordinário.

segunda-feira, 14 de março de 2011

-Não vi você lavar as mãos, volta lá e lava.
-Vai tomar no seu cu, não lavo se não quizer.
-Porco.
-Cala sua boca, ta parecendo mulher, me vê um cigarro aí.
-Não.
-Puta que pariu, me dá um cigarro aí, caralho.
-Pro inferno, não vou te dar nada, só tem mais 2.
-Deixa de ser pão-duro, me dá logo essa porra.- Pegou a carteira de cigarro na mesa,
tirou um acendeu e chamou o garçom: -Me vê mais uma dóse dessas aqui.
-Beleza.

Três minutos depois o barman volta com a dóse e o limão:-Tá aí.
-Valeu. Bebeu e seu amigo continuava calado, parecia puto por causa do cigarro.
-Sabe cara, eu admiro a industria do cigarro.
-Porra, o que você tá falando? Ah, vai tomar no seu cu, eu também, cala a boca.
-Tô falando sério, saca só, os caras que fazem cigarro são os únicos que
que te avisam que tão te vendendo vêneno, e mesmo assim vendem, é tipo "Meu produto
vai te deixar igual um leproso fudido e você possivelmente vai morrer por causa
disso, quer comprar?" E os caras ainda vendem pra caralho.
-Caralho, dá pra você parar de falar merda? Nunca mais saiu pra beber com você.
-Porra, eu tô falando sério, saca só, os carros também vão te enfiar um câncer, e
você nem tem que ser dono de um pra se fuder por isso, as coisas que comemos
vão enfiar um câncer no nosso sistema digestivo, tanto faz se você come coisas
industrializadas ou vegetais, dá na mesma, vegetais são ferrados com agrotoxicos,
celulares é a mesma merda, torres de transmissão. Porra, TUDO fode com nosso corpo
mas só a industria de cigarro avisa pra gente, tudo bem que eles são meio que
obrigados a fazerem isso, mas foda-se, acho que daria pra obrigar os fast-foods
também isso mostra que os caras do cigarro nem ligam pra isso, só fazem.
-Puta que pariu velho, essa é a pior merda que eu ouvi hoje, olha que passei o dia
com minha mulher.
-Ah, vai tomar no seu cu, tô te dando uma ideia séria aqui... Deixa pra lá,
me dá outro cigarro seu pão duro de merda.