Hoje, aos 52 anos de idade, me encontro aqui sentado, sozinho, bêbado, sem filhos, sem mulher, apenas com um carpete persa que não me serve nem para espantar o frio.
Toda a minha louca adolescência eu podia jurar que teria algo, mas não tenho nada, toda a minha luta de quando me tornei adulto, apenas me restou as bebedeiras solitárias, todas as minhas fugas, minhas teorias sobre a vida, a minha crença que vivi a risca... Nada foi real.
Me lembro perfeitamente dos meus 12 anos de idade, há 40 anos atrás, começando a descobrir o mundo, eu tinha um amor platônico como qualquer outra crinaça, lembro-me perfeitamente dos seus olhos cor-de-mel, seu cabelo enrolado e seu cheiro docê. Nós costumavamos brincar no quintal da minha casa, ela morava na rua atrás da minha, nos viamos todos os dias depois da aula, e como um belo bundão que era, e sempre fui, nunca falei do meu amor por ela. Um dia quando brincavamos ela encontrou algo e me chamou, saí correndo do lado oposto do quintal ao seu encontro, na metade do caminho eu tropecei e caí, cortei feio o joelho, mas como não queria mostrar minhas fraquezas para ela, segurei o choro e continuei deitado a me contorcer, ela viu o acidente de longe e veio ao meu encontro, quando percebi virei o rosto, então as lagrimas pareciam ganhar cada vez mais força, ela percebeu o sangue, ficou desesperada e correu, porém não disse nada, o que me ajudou a não chorar, ela chegou, soltou uma flor que trazia, nunca perguntei se era o que ela queria me mostrar, na verdade nunca toquei com ela nesse assunto, achava que me fazia parecer fraco, segurou minha mão e me ajudou a levantar, quando olhei seus olhos caridosos deixei uma lageima pequenininha escapar, ela percebeu, abriu um sorriso como que dizendo "Não se preocupe" e me beijou, foi meu primeiro beijo de verdade, e provavelmente o que mais significou algo. Parecia que a vida seria qualquer coisa de extraordinário.
Nenhum comentário:
Postar um comentário